quinta-feira, 7 de agosto de 2014

"Se não sai de ti a explodir apesar de tudo, não o faças. A menos que saia sem perguntar do teu coração, da tua cabeça, da tua boca, das tuas entranhas, não o faças. Se tens que estar horas sentado a olhar para um ecrã de computador, ou curvado sobre a tua máquina de escrever procurando as palavras, não o faças. Se o fazes por dinheiro ou fama, não o faças. Se o fazes para teres mulheres na tua cama, não o faças. Se tens que te sentar e reescrever uma e outra vez, não o faças. Se dá trabalho só pensar em fazê-lo, não o faças. Se tentas escrever como outros escreveram, não o faças. Se tens que esperar para que saia de ti, a gritar, então espera pacientemente. Se nunca sair de ti a gritar, faz outra coisa. Se tens que o ler primeiro à tua mulher ou namorada, ou namorado, ou pais, ou a quem quer que seja, não estás preparado. Não sejas como muitos escritores, não sejas como milhares de pessoas que se consideram escritores, não sejas chato nem aborrecido e pedante, não te consumas com autodevoção. As bibliotecas de todo o mundo têm bocejado até adormecer com os da tua espécie. Não sejas mais um, não o faças. A menos que saia da tua alma como um míssil, a menos que o estar parado te leve à loucura, ou ao suicídio ou homicídio, não o faças. A menos que o sol dentro de ti te queime as tripas, não o faças. Quando chegar mesmo a altura, e se foste escolhido, vai acontecer por si só e continuará a acontecer até que tu morras ou morra em ti. Não há outra alternativa. E nunca houve." Charles Bukowski